sábado, 4 de julho de 2009

O currículo e a diversidade humana

Para entender como as práticas curriculares podem valorizar a diversidade humana na formação, principalmente no nível da educação fundamental, é necessário compreender o que é currículo, além de compreender um pouco da diversidade humana.
O currículo pode ser definido de algumas maneiras como: um plano de estudos, ou como um documento onde se expressa e se organiza a formação, ou mesmo como “um artefato comprometido com os ideários científicos e administrativos do início do século XX”. (MACEDO, 2007, p. 35).
Segundo o psicólogo espanhol Cesar Coll, “o currículo é um instrumento que deve levar em conta as diversas possibilidades de aprendizagem não só no que concerne à seleção de metas e conteúdos, mas também na maneira de planejar as atividades”. (COLL, 2008, p. 32).
Portanto, analisando essas definições, principalmente na fala de Coll, percebemos o quanto é importante levar em conta não só as possibilidades de aprendizagem, mas também a diversidade humana. E, sobre diversidade humana podemos chamar também de biodiversidade. Quanto ao ponto de vista cultural, pode se dizer que é a construção histórica, cultural e social das diferenças.
As práticas curriculares podem de fato ser instrumentos de valorização da diversidade humana quando todos os envolvidos no processo educacional, desde os docentes, os discentes e até as instâncias maiores como as secretarias participam do mesmo de forma consciente exercendo a sua cidadania.
A valorização da diversidade humana perpassa também ao que chamaremos de diferenciação curricular, ou seja, um processo em que a escola “se organiza, estruturada em vias curriculares diferentes e de prestigio socialmente diverso, destinado a públicos com destinos sociais assumidamente estratificados”. (ROLDÃO, 2003, p. 43). Este mesmo tema já foi visto como gerador de discriminação social, e mais adiante é que a diferenciação curricular passou a ser vista como redentora, ou seja, diretamente ligada à prática docente, de maneira que se dê visibilidade à importância do aprendente. (ROLDÃO, 2003, p. 45).
O que percebemos nessa discussão sobre diferenciação curricular explicitado pela autora é que além de considerar as práticas pedagógicas, deve-se pensar também o que é ensinar, e como ensinar, buscando desta maneira observar a realidade do aprendente (aluno) para se construir um currículo que promova a inclusão de todos, visto que a educação é um direito de todos.
É necessário que, percebendo a diversidade humana, se dê reconhecimento aos saberes de cada povo, fazendo com isso a incorporação desses saberes no currículo. Para Silva, as marcas da diversidade devem se fazer presentes no currículo,
as narrativas contidas no currículo, explícita ou implicitamente, corporificam noções particulares sobre conhecimento, sobre formas de organização da sociedade, sobre os diferentes grupos sociais. Elas dizem qual conhecimento é legitimo e qual é ilegítimo, quais formas de conhecer são validas e quais não o são, o que é certo e o que é errado, o que é moral e o que é imoral, o que é bom e o que é mau, o que é belo e o que é feio, quais vozes são autorizadas e quais não o são. (1995, p.195).
Segundo (Roldão apud, Niza, 2000), a diferenciação curricular aproxima-se da diferenciação pedagógica, ou seja, esta se caracteriza por práticas que valorizem a diversidade dos percursos dos aprendentes, principalmente no que diz respeito à organização do processo de ensino e aprendizagem.
O currículo que busca a valorização da diversidade humana deve levar em conta diversos aspectos como: que conhecimentos são importantes, o tempo e o espaço de aprendizagem do aluno, sua cultura e os saberes construídos pelo grupo da qual ele faz parte, a formação de sua identidade e, acima de tudo este currículo deve posicionar-se contra toda e qualquer forma de exclusão e discriminação.
Percebe-se que algumas práticas curriculares já vêm buscando a valorização da diversidade à medida que gestores e professores comprometidos têm se esforçado na luta contra a discriminação e a exclusão, e até mesmo pelas instâncias maiores como as Secretarias, em que citamos como exemplo a implantação da disciplina sobre a cultura afro-brasileira e indígena nos currículos da rede regular do ensino fundamental.
Em suma, muito vem se fazendo para a valorização da diversidade humana na formação, porém, ainda há muito que fazer, precisamos descruzar os braços e lutar para que a escola “para todos” seja de fato concretizada.

Nenhum comentário: